Homenagem a professora
Esta página representa a
homenagem deste jornal à genitora do nosso colunista, José Ildone Favacho
Soeiro e à memória da ilustre professora.
Professora Irene, Vigiense para
não Esquecer
As novas gerações não a
conheceram. Mas se os jovens procurarem os mais idosos e perguntarem quem foi a
professora Irene, com certeza terão informações admiráveis.
Ouvimos de ex-alunos que ela se
preocupava severamente em que o aluno aprendesse pra valer. Perguntava sempre
se alguém não tinha entendido e repetia a explicação tantas vezes quantas
necessário.
O salário do professor era baixo
demais, mas havia um notável profissionalismo e empenho no ensinar bem, talvez
muito acima dos níveis internéticos atuais.
A MESTRA – Ela deu aulas
particulares de Português, Matemática, História, Ciência e Geografia, muito
jovem ainda. Era a maneira de prover suas necessidades (roupa, calçado,
medicamentos, por exemplo). Assim ajudava o pai, João Capistrano Favacho, cujo
cartório, por volta de 1930, rendia muito pouco.
Nada a afastava dos livros.
Assim, decorou o de Geografia, umas 40 páginas. Sabia de cor todos os países da
Europa e suas capitais, conforme testemunho de Francisco Olavo Raiol, tabelião
substituto de seu pai.
Participou de um teste surpresa,
com as matérias citadas, ordenado pelo coronel Barata, governador. Mesmo
avisada de véspera, conquistou a nota mais alta.
Foi logo nomeada professora da
vila de Colares. Ingressou posteriormente no Grupo Escolar da Vigia, depois
“Barão de Guajará”. Participou de novos exames, inclusive em Belém,
sobressaindo com notável aproveitamento.
Sua fama correu longe, até a
aposentadoria, com 39 anos de escola, os cinco últimos na secretaria do “Barão
de Guajará”, sendo diretora a profª. Andréia Ataíde Monteiro.
MATERNIDADE, RELIGIÃO E TEATRO –
Casada com o ferreiro Manoel Brito Soeiro, de uma família totalmente operária,
teve quatro filhos, nascidos no único sobrado que restou, perto da Matriz: lldone, Tomás, e um casal falecido: Irene e Tarcísio.
Dos pais católicos, herdou o amor
à religião, não só nas orações, mas no estudo e interpretação dos Evangelhos e
nas atividades da igreja: Filhas de Maria, Ação Católica e Apostolado da
Oração.
Influenciou sogros e cunhados e
assim criou os filhos, dois dos quais e também um sobrinho, preparou e
encaminhou ao Seminário Metropolitano, da Cidade Velha, em Belém, onde foram, aprovados
no teste de admissão.
Sempre se interessou pelo teatro,
decorando vários papéis. Dizem que ela substituía qualquer atriz que faltasse.
Dirigiu peças curtas e lançou uma, pelo São João, intitulada “A Vaquinha”. Os
atores eram alunos seus.
HONESTIDADE – Com o falecimento
do seu irmão Calazans, escrivão de polícia local, e da esposa dele, os três
filhos seriam separados e criados por diversos parentes. A Profª. Irene não
aceitou isso e levou os três para sua casa.
Um dia, o mais novo, Benedito
Calazans, aos 8 anos, encontrou, na rua, uma carteira recheada de dinheiro.
A professora mandou anunciar o
acontecimento na aparelhagem de som municipal. Vários “donos” apareceram e
foram desmascarados pela mestra, que ainda lhes deu tremenda lição de moral. O
dono era o comerciante Miguel Freitas, o qual, agradecido, quis gratificar o
garoto com certa quantia. Ela recusou a oferta, dizendo que tinha apenas
cumprido o dever de devolver aquilo que não era seu.
A MESSTRA, A LITERATURA E O CANTO
– Sua mãe, Maria de Lourdes Favacho, era excelente contadora de estórias.
Talvez dela a Profª. Irene tenha herdado o apego aos escritos.
Entre muitos livros lidos,
estimava os romances policiais e de mistério, “A Moreninha” e “O Moço Louro”
(de Joaquim M. de Macedo) “Os Três Mosqueteiros” e “Os Miseráveis” (de
Alexandre Dumas e Vitor Hugo, franceses), além de tantos que seu filho Ildone
trazia de Belém.
Lia também os poetas românticos,
decorava e recitava seus poemas. Tinha facilidade no versejar e deixou, em
cadernos, vários poemas rimados.
Em casa cantava em voz alta as
canções do seu tempo, que os raríssimos rádios veiculavam e com as quais os seresteiros
encantavam as noites de luar, depois que a luz dos lampiões se apagava, às 22
horas.
Uma das prediletas: “O Talento e
a Formosura”, com belíssima letra de Catulo da Paixão Cearense.
HOMENAGEM E FALECIMENTO – Afora
professoras universitárias e famosas normalistas belemenses, como a imortal
Anunciada Chaves, é possível que a professora Irene seja ímpar no interior do
Estado, se contarmos as citações de seu nome em livros publicados. São sete ao
todo, de autores como Prof. Isaac Dias Gomes, seu filho e mais dois da
Secretaria de Cultura do Estado: “Vigia – Patrimônio Cultural” (1997) e “Vigia
– Museu Contextual” (2002).
Teve o nome aposto numa escola
municipal fora da cidade, pelo prefeito Noé Palheta, também no Museu Histórico
Municipal e na Sociedade “Cinco de Agosto”, onde era a mais antiga associada e
secretária por longos anos.
Seu filho José Ildone, em 2003, instalou
a Biblioteca que a homenageia, no centro da cidade, e nela atende, anualmente,
centenas de visitantes, inclusive de outros Estados e um parisiense, casado com
uma vigiense, Frédéric Pagès.
A Professora Irene faleceu no dia
4 de novembro, na residência de sua neta Rosirene, onde havia maior espaço e
redução de barulho, após uma semana de internamento no Hospital Municipal, no
qual recebeu excelente tratamento, inclusive do Secretário de Saúde, Dr. João
Nunes de Sousa, seu ex-aluno.
Na missa de Réquiem, por ter sido
Secretária de Educação durante três gestões, recebeu a reverência do secretário
atual, Prof. Raimundo Jair, e da Diretora e alunos da Escola que leva o nome da
mestra falecida.
Além do livro “Mãe e Mestra –
Professora Irene aos 90 Anos”, distribuído em 2009, prepara-se uma publicação,
com farta ilustração fotográfica, sobre a vida desta professora vigiense, cujo
nome honra sua terra de nascimento e o magistério paraense.